segunda-feira, 16 de março de 2015

14º ENCONTRO DA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO – SABERES DA TERRA (14/03) – IF/PAU DOS FERROS

Enquanto a mata se renova e os campos se “averdejam” para se “amostrarem”, os passantes, ao largo, admiram a beleza da natureza em seus momentos de pura sintonia com a humanidade. Foi dessa forma que os professores da Serra do Mel, que se dirigiam para a cidade de Pau dos Ferros, neste sábado, dia 14/03, enxergaram a transformação, causada pelas abençoadas chuvas de verão, na paisagem entre o início da caminhada até o seu final, no IF da principal cidade do Alto Oeste Potiguar.


No Instituto, enquanto o desjejum era feito, as perguntas sempre são direcionadas para os acontecimentos relacionados com a falta ou não das precipitações pluviométricas na região em que estão localizadas as DIREDs participantes do curso de Especialização em Educação do Campo – Saberes da Terra – ProJovem Campo, principalmente por se tratar, diretamente, da captação de água para o abastecimento humano e da agricultura familiar nos municípios onde aqueles grupos de professores e técnicos convivem com as adversidades do homem do campo.


Em seguida, os primeiros repasses institucionais são ministrados no auditório da entidade, principalmente, a cargo da coordenadora Amélia Reis e de um ou outro professor selecionado para o complemento das informações metodológicas do término de curso (TCC) e de sala de aula.

Foram repassados os seguintes itens:

                              As bolsas de novembro e dezembro/2014
                              O seminário estadual (data provável: julho/15)
                              Último encontro: 09 de maio/15
                              Orientações gerais


No tocante ao seminário, a coordenadora esclareceu sobre a quantidade de dias (3), o local (Natal/RN), o Hotel (Pirâmides) e a divisão de professores por apartamentos (quem fica com quem – apartamentos: duplos e triplos).

Com relação ao edital da 3ª etapa dos Saberes da Terra, a coordenadora informou que ainda não foi divulgado, mas já se sabe que algumas cidades, pertencentes aos polos que compõem a especialização, já aderiram ao processo de municipalização. 

São eles:

Almino Afonso           Augusto Severo      Baraúnas                  Bom Jesus
Frutuoso Gomes         Ipanguassu              João Camará            Mossoró
Messias Targino         Pureza                    Rafael Godeiro         Rui Barbosa
São Miguel                 São Tomé               Venha-ver

As dúvidas, no entanto, persistem, pois, segundo os professores presentes, ainda estão muito confusas as informações relacionadas a:

                        - Formação continuada
                        - Competência dos municípios
                        - Edital de seleção

O professor formador, Luciano Dutra, usou da palavra para dar alguns encaminhamentos para os professores cursistas, antes de todos eles irem para as suas salas:

        - Seminário Estadual: apresentação, para uma banca, de parte do TCC
        - Memorial: como deve ser feito e quais suas etapas
        - Orientadores: encontros para o acompanhamento do TCC

Após as falas da coordenadora Amélia Reis e do professor Luciano Dutra, a equipe exibiu um vídeo “O Veneno Está na Mesa”

Sinopse: É o nome do documentário de Silvio Tendler. Um filme dedicado a elucidar o cidadão brasileiro sobre o escândalo dos agrotóxicos no Brasil, com depoimentos de agricultores, representantes de consumidores, representantes de multinacionais e da ANVISA, nossa agência nacional de vigilância sanitária. O Brasil é lamentavelmente o país que mais consome agrotóxicos no planeta.

O que mais incomoda, no entanto, é a total ingenuidade ou mesmo falta de interesse com que a população brasileira trata do assunto. De certa maneira representa uma forma de pensar que ainda vem do autoritarismo. Algo do tipo "se o governo aprovou é porque deve ser bom". E isso não tem nada a ver com a realidade.

A indústria de venenos agrícolas conta com a nossa ignorância para aprovar substâncias de alto poder de toxidade e proibidas no resto do planeta, com o aval de congressistas e do alto escalão do poder executivo, para serem despejadas em nossos alimentos. Um cálculo, dividindo a quantidade de agrotóxicos usadas no Brasil pelo número de habitantes, gera o número assustador de 5,2 litros de veneno per capita. Só em uma bandeja de morangos encontraram 18 tipos de agrotóxicos!

Assista ao vídeo clicando na imagem abaixo:



Quando o vídeo terminou, os professores se dirigiram para as salas de aula, para começar as discussões sobre o que estamos produzindo, como estamos produzindo e o que fazer para que a população se conscientize sobre o risco dos agrotóxicos e defensivos agrícolas na produção de alimentos.

SALA MÁRCIO MAIA E EDSON FILHO


SALA ABREU NETO E LUCIANO DUTRA


Inicialmente, os professores Abreu e Luciano abriram as discussões, sobre o vídeo exibido no auditório da entidade, convocando os professores cursistas para uma “tempestade de ideias”, porém com uma nova denominação, desta vez, mais apropriada para a região: “toró de pitacos”. 

Abaixo, algumas delas:

Dependência                         
Agrotóxico                      
 Incentivo
Desemprego                          
Falta de financiamento      
Autoestima
Danos ao meio ambiente      
Falta de tecnologia            
Recursos naturais
Coação                                 
Desmotivação                   
Crescimento econômico
Desestímulo                           
Desequilíbrio                    
Desequilíbrio ecológico
Seca                                      
Manipulação                     
Conscientização

O “toró de pitacos” proporcionou discussões entre os participantes (sobre problemas e causas) e algumas observações primárias sobre o que se produz, a sua relação com o meio ambiente, o interesse econômico e, no meio disso tudo, qual o futuro da agricultura familiar (um dos objetos de estudo dos professores) e a sua dependência diante do agronegócio e das grandes corporações financeiras mundiais.   

- O interesse econômico se sobrepõe aos demais pilares (social e ambiental) que compõem o alicerce;

- O uso indiscriminado das tecnologias, para o aumento da produção, leva cada vez mais ao aumento dos defensivos agrícolas, o que, por sua vez, aumenta mais o risco com a saúde de seus consumidores;

- A maioria das ações voltadas para o meio ambiente é uma forma de modismo, já que as informações são geradas a partir de uma data especifica e não abrangem as vivências de como são produzidas determinadas culturas e suas especificidades, sejam elas beneficias ou maléficas;

- A agricultura familiar está fadada a desaparecer diante do progresso e dos recursos utilizados para produzir alimentos geneticamente modificados (o interesse econômico para produzir cada vez mais alimentos em menor espaço e menor tempo).

- A pergunta: “o que estamos fazendo, pedagogicamente, para mudar essa realidade?” trouxe várias indagações e contribuiu para um leque de reflexões entre os participantes, dentre elas a seguinte frase:

O papel do educador é um exercício constante de motivar através do conhecimento, mostrando a realidade no processo em que está inserido”.


No tocante as possíveis soluções, no “toró de pitacos”, os professores elencaram várias palavras que, juntas, poderão ajudar numa nova ordem de reflexões:

Políticas públicas         Transformação                Atitude                       Agroecologia
Governo ambiental       Emancipação                  Sustentabilidade        Cidadania
Recursos hídricos         Formação                        Envolvimento            Persistência
Pertencimento              Conhecimento local        Organização              Conscientização
Valores agregados        Mobilização social         Solidariedade             Controle social
Gestão participativa

Chegada a hora do almoço, os professores desceram para o refeitório, deixando para a parte da tarde as apresentações de seus grupos...

Cada grupo de professores ficou livre para decidir sobre o que fazer em sua apresentação: ou uma peça de teatro, ou um cordel, ou uma poesia, ou uma paródia...

PREPARAÇÃO


APRESENTAÇÕES

MARTINS

Iraci Eugia
Elídia Meire
Elizonete
Leudiane


Povo Vitimado

Gastam mais de 1 milhão
Com agrotóxico por aí
Para plantar e produzir
Mas não sou a favor não

É só querer enriquecer
Porém, ao envelhecer,
As consequências vão sofrer
Tudo vai piorar
Por isso, não podemos
O agrotóxico dominar

O Brasil é a lixeira tóxica do plantio
Precisa rever sua legislação
O uso não está certo
Não há fiscalização
Quem paga é o consumidor
Quando come o feijão

E não para por aqui
Os problemas vão além disso, daí
Homens insensatos
Incêndios indiscriminados
Queimando na fogueira Sonhos almejados
De um povo heroico vitimado

PORTALEGRE (1)

Adriana Gomes
Cleide Andrade
Maria Oliveira José Lucena


A agricultura familiar

A todos peço licença
Para uns versos contar
Nossa preocupação é com a natureza
Vamos juntos preservar

A agricultura é importante
Dela vem a nossa alimentação
Mas do jeito que as coisas andam
Causa muita preocupação

O homem com a sua ganância
Não pensa na vida do irmão
Usa muito agrotóxico
Aumentando a produção

Chega ao ponto de não consumir
O que da terra ele produz
Vendendo o excedente
Ficando com o lucro

Se continuar desse jeito
Vamos morrer cada vez mais cedo
E as novas gerações
Não terão como sobreviver

Não justifique os danos
Ao meio ambiente
Por falta de conhecimento
Emprego ou financiamento

Reflita sobre suas ações
Seja mais inteligente
Use nossos recursos
Pensando no meio ambiente

Não caia na conversa
Que é bom colocar
Lixo na propriedade
Para a produção aumentar

A produção pode até parecer bonita
E de ótima qualidade
Mas não se engane
Você está produzindo
É veneno para o consumo
Seja poluindo o solo, a plantação
E os lençóis freáticos

A natureza para continuar bela
Precisa ser preservada
Não utilize agrotóxico
Pois causa poluição

Não o utilize com adubo
Para a sua plantação
Pois o lixo não sendo orgânico
Causa muita destruição

SERRA DO MEL

Elizângela Sales
Luzia Isabela
Raimundo Antonio
Teresa Cristina

Primeiro, a representação teatral...
... depois, a leitura dos versos de "pé quebrado"
O ser sustentável

É preciso ter garra
Insistência e perseverança
E buscar alternativas
Para viver em consonância
Com o meio ambiente
Sem perder as esperanças

O homem que vive da terra
 E come do que dela produz
Precisa saber o que planta
Para não acabar com a esperança
De viver em consonância
Com o progresso do Brasil

Se for viver de ganância
Sem se importar com o que planta
O homem perde a esperança
De uma vida de mudança
E não percebe a importância
De viver e ser feliz

Como pode o homem trocar
O sossego de sua terra
Inventar uma moda
Que ouviu dizer acolá
Que se agrotóxico usar
A sua plantação vai triplicar

Então é preciso conscientizar
Aos agricultores do país
Que cuidar da sua agricultura
E preservar sua raiz
É nunca precisar
De colher o mal como matriz

RIACHO DE SANTANA


ALMINO AFONSO


PORTALEGRE (2)

Socorro
Susy
Conceição


Sustentabilidade

Hoje muito se fala
Em sustentabilidade
Algo inovador
De muitas possibilidades

Um discurso agradável
Bom de escutar
Pena que a sociedade
Está longe de praticar

O homem manipulado
Pelo capital
Faz uso exagerado
Dos recursos naturais

Pensando no lucro
O homem não ajuda
Prejudicando nossa saúde
Com inadequados produtos

Em sua própria defesa
Põe a culpa na seca, ou no desemprego
Esquecendo até do alimento
Que ele põe na mesa

É preciso ter bondade
Para tudo isso mudar
A começar pela atitude
E o jeito de preservar

É preciso transformar
Não somente discursar
Cuidar das nossas potencialidades
E o nosso planeta salvar

LUIZ GOMES

                       Paulo Cruz
Márcio Henrique
Luciana Lima
Amilton Nunes


Tareco e Mariola (paródia)

Eu não preciso de agrotóxico
A agricultura é grande
Por soluções me espera
Fertilizantes não vão me dar na primavera
As flores lindas que eu plantei no meu sertão

Eu não preciso de agroindústria
Já fiz de tudo pra melhorar o meu plantio
Já utilizei agrotóxico várias vezes
Juro por Deus não encontrei melhora não

Carta na mesa
O agricultor conhece a planta pela terra
Tu sabes que eu já tirei leite de cabra
Só pra te ver sorrir pra mim, não chora!

Você foi longe
O agrotóxico destruiu a sua vida
Só que eu nasci na agricultura da família
Comendo milho, feijão verde e mungunzá

Eu me criei
Ouvindo o toque da enxada na poeira
Ninguém melhor que minha vó na cuscuzeira
Com sua arte criou muito mais de dez

Eu me criei
Matando a fome com farinha de mandioca
Comendo milho verde com angu e tapioca
Por entre os sítios de Chico Velho e Babaú

CARAÚBAS

Adriana
Neurivan
Fca. Pereira
Aguinaldo


Sustentabilidade

Num projeto de pesquisa
Que fortaleça a produção
O que na verdade precisa
Nesse mundo meu irmão
Pra acontecer de verdade
É a sustentabilidade
Mais isso requer muitas mãos

Vamos explicar agora
Para aluno e professor
Como trabalhar a terra
Sem ser um devastador
Pois ela é nossa morada
Mais vem sendo degradada
E mudando até de cor

Os recursos naturais
Na nossa comunidade
Temos que otimizá-los
Com muita responsabilidade
Sem causar deterioração
Tendo isso cidadão
É sustentabilidade

Para viabilizar
O conhecimento local
É necessário desfazer
O modelo tradicional
Que tem força e poder
E pode até trazer
O fracasso total

Depois das apresentações, o professor Luciano fez suas últimas considerações sobre o proveitoso dia de trabalho, enumerou algumas observações, repassou os últimos informes e liberou a turma para o lanche da tarde e, em seguida, a reunião com o orientador.


LANCHE

Kaká, dona Ilma e Meire: a galera encarregada da alimentação dos professores 
ORIENTAÇÃO

Professor orientador Edson Filho: com a turma da Serra do Mel/RN
CARLOS “TOURIM”: o saberiano se fez presente


Na volta para casa, enquanto o entardecer vinha chegando, o carro rasgava os vales do semiárido potiguar – em seu Alto Oeste – e buscava, entre as novas cores que a terra apresentava, a beleza da natureza que se renova. Encontrou-a. Do alto do morro, viu, lá embaixo, a fertilidade da terra banhada pelo lago quase perene, que suportou a seca e preservou suas águas para matar a sede e molhar o chão plantado de milho e feijão que mata a fome do sertanejo “pastorador” daquelas paragens. Ao carro só restou registrar suas belas imagens...

A nesga de água aparecendo entre o mato verde, enquanto o Sol reflete suas cores no horizonte dos retrovisores
                        

Um comentário:

Leidiane disse...

As apresentações foram riquíssimas. E como sempre o registro ficou impecável. Valeu Raimundo.