Enquanto a mata se
renova e os campos se “averdejam” para se “amostrarem”, os passantes, ao largo,
admiram a beleza da natureza em seus momentos de pura sintonia com a
humanidade. Foi dessa forma que os professores da Serra do Mel, que se dirigiam
para a cidade de Pau dos Ferros, neste sábado, dia 14/03, enxergaram a
transformação, causada pelas abençoadas chuvas de verão, na paisagem entre o
início da caminhada até o seu final, no IF da principal cidade do Alto Oeste
Potiguar.
No Instituto, enquanto
o desjejum era feito, as perguntas sempre são direcionadas para os
acontecimentos relacionados com a falta ou não das precipitações pluviométricas
na região em que estão localizadas as DIREDs participantes do curso de
Especialização em Educação do Campo – Saberes da Terra – ProJovem Campo,
principalmente por se tratar, diretamente, da captação de água para o
abastecimento humano e da agricultura familiar nos municípios onde aqueles
grupos de professores e técnicos convivem com as adversidades do homem do
campo.
Em seguida, os
primeiros repasses institucionais são ministrados no auditório da entidade,
principalmente, a cargo da coordenadora Amélia Reis e de um ou outro professor
selecionado para o complemento das informações metodológicas do término de
curso (TCC) e de sala de aula.
Foram repassados os
seguintes itens:
As bolsas
de novembro e dezembro/2014
O
seminário estadual (data provável: julho/15)
Último
encontro: 09 de maio/15
Orientações
gerais
No tocante ao seminário, a
coordenadora esclareceu sobre a quantidade de dias (3), o local (Natal/RN), o
Hotel (Pirâmides) e a divisão de professores por apartamentos (quem fica com
quem – apartamentos: duplos e triplos).
Com relação ao edital
da 3ª etapa dos Saberes da Terra, a coordenadora informou que ainda não foi
divulgado, mas já se sabe que algumas cidades, pertencentes aos polos que
compõem a especialização, já aderiram ao processo de municipalização.
São eles:
Almino Afonso Augusto
Severo Baraúnas Bom Jesus
Frutuoso Gomes Ipanguassu João Camará Mossoró
Messias Targino Pureza Rafael
Godeiro Rui Barbosa
São Miguel São
Tomé Venha-ver
As dúvidas, no entanto,
persistem, pois, segundo os professores presentes, ainda estão muito confusas
as informações relacionadas a:
- Formação continuada
- Competência dos municípios
- Edital de seleção
O professor formador,
Luciano Dutra, usou da palavra para dar alguns encaminhamentos para os professores
cursistas, antes de todos eles irem para as suas salas:
- Seminário Estadual: apresentação, para uma
banca, de parte do TCC
- Memorial: como deve ser feito e quais suas
etapas
- Orientadores: encontros para o
acompanhamento do TCC
Após as falas da coordenadora
Amélia Reis e do professor Luciano Dutra, a equipe exibiu um vídeo “O Veneno
Está na Mesa”
Sinopse: É o nome do
documentário de Silvio Tendler. Um filme dedicado a elucidar o cidadão
brasileiro sobre o escândalo dos agrotóxicos no Brasil, com depoimentos de
agricultores, representantes de consumidores, representantes de multinacionais
e da ANVISA, nossa agência nacional de vigilância sanitária. O Brasil é
lamentavelmente o país que mais consome agrotóxicos no planeta.
O que mais incomoda, no
entanto, é a total ingenuidade ou mesmo falta de interesse com que a população
brasileira trata do assunto. De certa maneira representa uma forma de pensar
que ainda vem do autoritarismo. Algo do tipo "se o governo aprovou é
porque deve ser bom". E isso não tem nada a ver com a realidade.
A indústria de venenos
agrícolas conta com a nossa ignorância para aprovar substâncias de alto poder de toxidade e proibidas no resto do planeta, com o aval de
congressistas e do alto escalão do poder executivo, para serem despejadas em nossos
alimentos. Um cálculo, dividindo a quantidade de agrotóxicos usadas no Brasil
pelo número de habitantes, gera o número assustador de 5,2 litros de veneno per
capita. Só em uma bandeja de morangos encontraram 18 tipos de agrotóxicos!
Assista
ao vídeo clicando na imagem abaixo:
Quando o vídeo
terminou, os professores se dirigiram para as salas de aula, para começar as
discussões sobre o que estamos produzindo, como estamos produzindo e o que
fazer para que a população se conscientize sobre o risco dos agrotóxicos e defensivos
agrícolas na produção de alimentos.
SALA
MÁRCIO MAIA E EDSON FILHO
SALA
ABREU NETO E LUCIANO DUTRA
Inicialmente, os
professores Abreu e Luciano abriram as discussões, sobre o vídeo exibido no
auditório da entidade, convocando os professores cursistas para uma “tempestade de ideias”, porém com uma
nova denominação, desta vez, mais apropriada para a região: “toró de pitacos”.
Abaixo, algumas
delas:
Dependência
Agrotóxico
Incentivo
Desemprego
Falta de
financiamento
Autoestima
Danos
ao meio ambiente
Falta
de tecnologia
Recursos
naturais
Coação
Desmotivação
Crescimento
econômico
Desestímulo
Desequilíbrio
Desequilíbrio
ecológico
Seca
Manipulação
Conscientização
O “toró de pitacos” proporcionou discussões entre os participantes
(sobre problemas e causas) e algumas observações primárias sobre o que se
produz, a sua relação com o meio ambiente, o interesse econômico e, no meio
disso tudo, qual o futuro da agricultura familiar (um dos objetos de estudo dos
professores) e a sua dependência diante do agronegócio e das grandes
corporações financeiras mundiais.
- O interesse econômico
se sobrepõe aos demais pilares (social e ambiental) que compõem o alicerce;
- O uso indiscriminado
das tecnologias, para o aumento da produção, leva cada vez mais ao aumento dos
defensivos agrícolas, o que, por sua vez, aumenta mais o risco com a saúde de
seus consumidores;
- A maioria das ações
voltadas para o meio ambiente é uma forma de modismo, já que as informações são
geradas a partir de uma data especifica e não abrangem as vivências de como são
produzidas determinadas culturas e suas especificidades, sejam elas beneficias
ou maléficas;
- A agricultura
familiar está fadada a desaparecer diante do progresso e dos recursos
utilizados para produzir alimentos geneticamente modificados (o interesse
econômico para produzir cada vez mais alimentos em menor espaço e menor tempo).
- A pergunta: “o que
estamos fazendo, pedagogicamente, para mudar essa realidade?” trouxe várias
indagações e contribuiu para um leque de reflexões entre os participantes,
dentre elas a seguinte frase:
“O papel do educador é um exercício constante de motivar através do conhecimento, mostrando a realidade no processo em que está inserido”.
No tocante as possíveis
soluções, no “toró de pitacos”, os
professores elencaram várias palavras que, juntas, poderão ajudar numa nova
ordem de reflexões:
Políticas públicas Transformação Atitude Agroecologia
Governo ambiental Emancipação Sustentabilidade Cidadania
Recursos hídricos Formação Envolvimento Persistência
Pertencimento Conhecimento local Organização Conscientização
Valores agregados Mobilização social Solidariedade Controle social
Gestão participativa
Chegada a hora do
almoço, os professores desceram para o refeitório, deixando para a parte da
tarde as apresentações de seus grupos...
Cada grupo de professores ficou livre para decidir sobre o que fazer em sua apresentação: ou uma peça de teatro, ou um cordel, ou uma poesia, ou uma paródia...
PREPARAÇÃO
APRESENTAÇÕES
MARTINS
Iraci
Eugia
Elídia
Meire
Elizonete
Leudiane
Povo Vitimado
Gastam
mais de 1 milhão
Com
agrotóxico por aí
Para
plantar e produzir
Mas
não sou a favor não
É
só querer enriquecer
Porém, ao envelhecer,
As
consequências vão sofrer
Tudo
vai piorar
Por
isso, não podemos
O
agrotóxico dominar
O
Brasil é a lixeira tóxica do plantio
Precisa
rever sua legislação
O
uso não está certo
Não
há fiscalização
Quem
paga é o consumidor
Quando
come o feijão
E
não para por aqui
Os
problemas vão além disso, daí
Homens
insensatos
Incêndios
indiscriminados
Queimando
na fogueira Sonhos almejados
De
um povo heroico vitimado
PORTALEGRE
(1)
Adriana
Gomes
Cleide
Andrade
Maria
Oliveira José Lucena
A agricultura familiar
A
todos peço licença
Para
uns versos contar
Nossa
preocupação é com a natureza
Vamos
juntos preservar
A
agricultura é importante
Dela
vem a nossa alimentação
Mas
do jeito que as coisas andam
Causa
muita preocupação
O
homem com a sua ganância
Não
pensa na vida do irmão
Usa
muito agrotóxico
Aumentando
a produção
Chega
ao ponto de não consumir
O
que da terra ele produz
Vendendo
o excedente
Ficando
com o lucro
Se
continuar desse jeito
Vamos
morrer cada vez mais cedo
E
as novas gerações
Não
terão como sobreviver
Não
justifique os danos
Ao
meio ambiente
Por
falta de conhecimento
Emprego
ou financiamento
Reflita
sobre suas ações
Seja
mais inteligente
Use
nossos recursos
Pensando
no meio ambiente
Não
caia na conversa
Que
é bom colocar
Lixo
na propriedade
Para
a produção aumentar
A
produção pode até parecer bonita
E
de ótima qualidade
Mas
não se engane
Você
está produzindo
É
veneno para o consumo
Seja
poluindo o solo, a plantação
E
os lençóis freáticos
A
natureza para continuar bela
Precisa
ser preservada
Não
utilize agrotóxico
Pois
causa poluição
Não
o utilize com adubo
Para
a sua plantação
Pois
o lixo não sendo orgânico
Causa
muita destruição
SERRA
DO MEL
Elizângela
Sales
Luzia
Isabela
Raimundo
Antonio
Teresa
Cristina
Primeiro, a representação teatral... |
... depois, a leitura dos versos de "pé quebrado" |
O
ser sustentável
É preciso ter garra
Insistência e perseverança
E buscar alternativas
Para viver em consonância
Com o meio ambiente
Sem perder as esperanças
O homem que vive da terra
E come do que dela produz
Precisa saber o que planta
Para não acabar com a esperança
De viver em consonância
Com o progresso do Brasil
Se for viver de ganância
Sem se importar com o que planta
O homem perde a esperança
De uma vida de mudança
E não percebe a importância
De viver e ser feliz
Como pode o homem trocar
O sossego de sua terra
Inventar uma moda
Que ouviu dizer acolá
Que se agrotóxico usar
A sua plantação vai triplicar
Então é preciso conscientizar
Aos agricultores do país
Que cuidar da sua agricultura
E preservar sua raiz
É nunca precisar
De colher o mal como matriz
RIACHO
DE SANTANA
ALMINO
AFONSO
PORTALEGRE
(2)
Socorro
Susy
Conceição
Sustentabilidade
Hoje muito se fala
Em sustentabilidade
Algo inovador
De muitas possibilidades
Um discurso agradável
Bom de escutar
Pena que a sociedade
Está longe de praticar
O homem manipulado
Pelo capital
Faz uso exagerado
Dos recursos naturais
Pensando no lucro
O homem não ajuda
Prejudicando nossa saúde
Com inadequados produtos
Em sua própria defesa
Põe a culpa na seca, ou no
desemprego
Esquecendo até do alimento
Que ele põe na mesa
É preciso ter bondade
Para tudo isso mudar
A começar pela atitude
E o jeito de preservar
É preciso transformar
Não somente discursar
Cuidar das nossas potencialidades
E o nosso planeta salvar
LUIZ
GOMES
Paulo
Cruz
Márcio
Henrique
Luciana
Lima
Amilton
Nunes
Tareco
e Mariola
(paródia)
Eu não preciso de agrotóxico
A agricultura é grande
Por soluções me espera
Fertilizantes não vão me dar na
primavera
As flores lindas que eu plantei no
meu sertão
Eu não preciso de agroindústria
Já fiz de tudo pra melhorar o meu plantio
Já utilizei agrotóxico várias vezes
Juro por Deus não encontrei melhora
não
Carta na mesa
O agricultor conhece a planta pela
terra
Tu sabes que eu já tirei leite de
cabra
Só pra te ver sorrir pra mim, não
chora!
Você foi longe
O agrotóxico destruiu a sua vida
Só que eu nasci na agricultura da
família
Comendo milho, feijão verde e mungunzá
Eu me criei
Ouvindo o toque da enxada na poeira
Ninguém melhor que minha vó na
cuscuzeira
Com sua arte criou muito mais de
dez
Eu me criei
Matando a fome com farinha de
mandioca
Comendo milho verde com angu e
tapioca
Por entre os sítios de Chico Velho
e Babaú
CARAÚBAS
Adriana
Neurivan
Fca.
Pereira
Aguinaldo
Sustentabilidade
Num projeto de pesquisa
Que fortaleça a produção
O que na verdade precisa
Nesse mundo meu irmão
Pra acontecer de verdade
É a sustentabilidade
Mais isso requer muitas mãos
Vamos explicar agora
Para aluno e professor
Como trabalhar a terra
Sem ser um devastador
Pois ela é nossa morada
Mais vem sendo degradada
E mudando até de cor
Os recursos naturais
Na nossa comunidade
Temos que otimizá-los
Com muita responsabilidade
Sem causar deterioração
Tendo isso cidadão
É sustentabilidade
Para viabilizar
O conhecimento local
É necessário desfazer
O modelo tradicional
Que tem força e poder
E pode até trazer
O fracasso total
Depois das
apresentações, o professor Luciano fez suas últimas considerações sobre o
proveitoso dia de trabalho, enumerou algumas observações, repassou os últimos
informes e liberou a turma para o lanche da tarde e, em seguida, a reunião com
o orientador.
LANCHE
Kaká, dona Ilma e Meire: a galera encarregada da alimentação dos professores |
ORIENTAÇÃO
Professor orientador Edson Filho: com a turma da Serra do Mel/RN |
CARLOS
“TOURIM”: o saberiano se fez presente
Na volta para casa,
enquanto o entardecer vinha chegando, o carro rasgava os vales do semiárido
potiguar – em seu Alto Oeste – e buscava, entre as novas cores que a terra
apresentava, a beleza da natureza que se renova. Encontrou-a. Do alto do morro,
viu, lá embaixo, a fertilidade da terra banhada pelo lago quase perene, que
suportou a seca e preservou suas águas para matar a sede e molhar o chão
plantado de milho e feijão que mata a fome do sertanejo “pastorador” daquelas
paragens. Ao carro só restou registrar suas belas imagens...
A nesga de água aparecendo entre o mato verde, enquanto o Sol reflete suas cores no horizonte dos retrovisores |
Um comentário:
As apresentações foram riquíssimas. E como sempre o registro ficou impecável. Valeu Raimundo.
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