sábado, 22 de fevereiro de 2014

EDUCAÇÃO DO CAMPO: 1ª e 2ª AULAS DE 2014 NA SERRA

Enquanto o carro rasgava a noite sem luar, em busca da Serra, no interior do mesmo, os três professores (Raimundo Antonio, Teresa Cristina e Elizângela Sales) recordavam, em cada lugar que passavam, o início das aulas dos Saberes da Terra, no ano de 2012, na Escola Estadual Padre José de Anchieta – na Vila Rio Grande do Norte –, no município da Serra do Mel/RN. 

Nunca fora fácil ir até lá e tampouco voltar de lá. A começar pela distância entre os domicílios dos mesmos que, em alguns casos, chega fácil aos 160 quilômetros e, no menor deles, 100 quilômetros mais ou menos. Depois, a estrada... A princípio movimentada e sinalizada, traz como constante perigo os animais na pista de rolamento. Em seguida, o caminho que toma a direção da Serra: estreito, sem acostamento, sem sinalização, de asfalto inconstante e, vez por outra, imprevistos desagradáveis contra veículos e passageiros. 

Tudo isso credenciava a desmotivação e, consequentemente, a não busca pela excelência educacional. Porém, o que se viu, neste período, é que, às vezes, uma situação adversa leva à perseverança, ao comprometimento, ao vínculo com a comunidade e, com isso, ao interesse crescente pela parcela de sacrifício e vontade de enxergar, no final do programa, a alegria da vitória no rosto de todos os envolvidos, que toma conta de cada um, e isso multiplica esforços e extingue o desânimo. 

Da mesma forma que a adversidade pairava por sobre as cabeças dos professores, isso também se dava com a parcela dos alunos. Eles, moradores das várias vilas que compõem o município de Serra do Mel/RN, assim como os professores, andam vários e vários quilômetros para chegarem ao local de ensino, muitas vezes de maneira desconfortável, carregando consigo a fadiga do dia de trabalho e o pedido de não ir, implorado pelo corpo, a cada vez que o solavanco do transporte escolar o impulsiona de um lado para o outro da cadeira do mesmo. 

Para cada professor ali dentro daquele carro, a lembrança deste início serve, também, como uma pequena vitória conquistada na conversa amigável, no parar, ouvir e dar conselhos; das tarefas motivadoras; dos momentos de descontrações com dinâmicas e brincadeiras na sala de aula... Enfim, para os ocupantes daquele carro que rumava na direção do saber o passado podia, sim, ser considerado de superação de obstáculo, determinação e força de vontade, compromisso e vocação, luta e vitória. 

Agora, os desafios do último ano do programa para aqueles abnegados, compromissados e fieis alunos/colonos. Por isso, enquanto as luzes iluminavam a escuridão, a expectativa das boas-vindas – tanto da parte dos docentes quanto dos discentes... 

Enfim, a escola. Nela, a sala de aula. A espera. Aos poucos eles foram chegando de suas vilas. Em todos os ônibus que chegavam na frente da escola, a certeza de que, de dentro dele, cinco, seis, sete alunos desceriam quando da sua parada. E assim foi. A alegria, os abraços, as histórias que começaram a ser contadas por cada um deles – relatando o seu período sem aula -, mostravam que, quando o trabalho é bem feito, o vínculo não se quebra nem a aliança é desfeita... Bem-vindos alunos/colonos dos Saberes da Terra – ProJovem Campo – da Serra do Mel!


No dia 20/02/14 (quinta-feira), os alunos foram recebidos com uma dinâmica de boas-vindas, na qual cada palavra marcada e pronunciada valia para um determinado fim. Foi entre abraços, apertos de mão, gargalhadas e palmas que os alunos/colonos selaram o compromisso de mais um ano entre eles, Saberes da Terra e os professores formadores do programa.





Imediatamente após as boas-vindas, foram entregues kits, enviados pela professora Magali Delfino – diretora da 12ª DIRED –, a cada aluno/colono, contendo caderno, caneta, lápis, borracha, lapiseira, coleção de lápis de cor, cola escolar, régua, folhas em branco tamanho A4 e uma camiseta personalizada dos Saberes da Terra.







Antes do início da aula, os professores Raimundo Antonio (Ciências Exatas) e Antônia Farias (Ciências humanas) repassaram os informes de início do ano, dentre eles:




• A avaliação de mais uma bolsa no sistema do ProJovem. 
• A parceria que será feita entre a escola e o programa – através dos técnicos agrícolas e do coordenador pedagógico – para a realização de duas hortas comunitárias que servirão para abastecer a cozinha da escola em sua colheita. 
• A inscrição de novos alunos/colonos, desde que eles tenham cursado até a 7ª série e façam um teste avaliativo para a obtenção das duas primeiras notas. 
• Outros.

Logo a seguir, as professoras Teresa Cristina e Elizângela Sales começaram os trabalhos com o terceiro caderno do programa. No primeiro texto, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. A professora Teresa Cristina (Ciências Humanas) conduziu a leitura – em que cada um dos alunos/colonos lia um trecho – e a cada término de artigo, o assunto era debatido amplamente por todos, inclusive trazendo para a realidade de suas vidas.


Depois do jantar, o assunto foi retomado pela professora Elizângela (Códigos e Linguagens), que foi destacando, no texto, as palavras de significados estranhos para eles – como exercício de casa. Em seguida, a professora passou a trabalhar substantivos e adjetivos com um trecho da Declaração Universal dos Direitos do Homem. 


Ontem, dia 21/02/14 (sexta-feira), os alunos já chegaram devidamente fardados. Notava-se, no semblante de cada um deles, a satisfação no olhar e, em algumas conversas com eles, os professores puderam comprovar a questão de pertença ao local, no caso, à Escola Estadual Padre José de Anchieta.

A aula começou com a professora Elizângela Sales (Linguagens e Códigos) que, na noite anterior havia começado a trabalhar substantivos e adjetivos dentro de um fragmento da carta da Declaração dos Direitos do Homem. Depois da correção, nos cadernos dos alunos/colonos, das palavras que foram selecionadas para se pesquisar no dicionário – os seus sinônimos –, a professora retomou o conteúdo e passou um exercício em que os substantivos e adjetivos fossem enumerados de acordo com o texto dado e de acordo com a letra “A” do alfabeto. 





No segundo momento, os técnicos agrícolas Jacildo Silva e Aílton Targino assumiram e passaram a ministrar uma aula voltada para os projetos que estão sendo elaborados – nas vilas e na própria escola (em parceria). Os técnicos descreveram, no quadro branco, as etapas de uma horta comunitária – dentro da escola –, as suas especificidades, o cuidado na manutenção da fonte que irá abastecer e irrigar essa horta, metragem e o tipo de semente a ser plantada. Os técnicos definiram ainda os locais (as vilas) a serem implantados os projetos de agricultura familiar.




Aos professores Raimundo Antonio, Teresa Cristina e Antônia Farias coube a assistência aos filhos dos alunos/colonos, com dinâmicas e brincadeiras.


Na volta, rasgando a noite escura com seus faróis de luzes claras e alcances que possibilitam enxergar longe o asfalto negro da estrada, os professores pensam e dizem, em suas reflexões: daqui a dez meses teremos o prazer e o orgulho de ver formada a primeira turma dos Saberes da Terra no município da Serra do Mel/RN! Atrás, vista apenas pelos retrovisores, a foto dos alunos em pose para a posteridade e a Serra e suas luzes que vão sumindo no horizonte...

Com os mestres...
... sem os mestres
NOTA DA 12ª DIRED

As aulas começaram, para os professores e alunos/colonos dos Saberes da Terra, na primeira quinzena de fevereiro, em virtude de a escola onde o programa é aplicado, as aulas regulares só iniciarem quando as aulas das escolas municipais iniciam também. O motivo de as escolas do estado acompanharem o calendário municipal é o transporte dos alunos das várias vilas, para a vila Rio Grande do Norte, ser de competência da prefeitura que, para economizar custos, adéqua um só calendário escolar para todos.

Gestores da EEPJA
Vale o registro da preocupação e do zelo dos atuais diretores da escola, no que tange ao acolhimento dos alunos/colonos dos Saberes da Terra. Eles se colocaram à disposição para solucionar o problema da sala de aula, carteiras, das refeições e dos ônibus (que não estavam passando em uma das vilas onde uma boa parte dos alunos mora) e, neste início de ano letivo, tanto o diretor quanto a sua vice-diretora honraram o cargo de gestor público educacional, com uma administração voltada para o servir, cuidar e educar, no sentido pedagógico da palavra. A professora Magali Delfino – diretora da 12ª DIRED – agradece aos professores Raimundo Araújo e Ana Paula pela iniciativa e enaltece o trabalho que eles estão fazendo para tornar realidade a agricultura familiar nos alunos/colonos da Serra do Mel/RN.


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