domingo, 26 de janeiro de 2014

EDUCAÇÃO DO CAMPO: SEGUNDA AULA DA ESPECIALIZAÇÃO


A viagem de Mossoró a Pau dos Ferros/RN, neste dia 25/01/2014, feita pelos professores dos Saberes da Terra da Serra do Mel/RN, para assistirem a mais uma aula da Especialização em Educação do Campo, não se constitui uma jornada cansativa e nem tampouco um caminho sofrido e demorado – da sua saída até a sua chegada. Pelo contrário, é uma viagem em que a paisagem, acompanhada do abrir de mais um dia, se faz plena e se mostra em seu esplendor de fé e esperança, e cada um de seus habitantes sai para a labuta diária, seja ela de tirar o leite do peito da vaca, de pôr a cangalha no boi para capinar mais uma faixa de terra – esperando que os céus abençoem e, com isso, mandem, pelo menos, um terço da água que todo nordestino sonha para banhar suas terras – ou, então, começar a se preparar para “pegar” o transporte para ir fazer à feira da semana na cidade mais próxima. 

O sertanejo ainda cultiva as suas origens, mas já começa a mudar a sua forma de viver. A modernidade vem chegando e já é possível ver os seus efeitos ao longo da estrada que serve de caminho para o destino final dos professores. O sofrimento (seca, fome, sede) deixará de ser, em um espaço curto de tempo, a tônica das conversas do homem do campo – que se senta ao cair da tarde, em seus alpendres de pau a pique e relembra seus causos –, para dar lugar aos negócios feitos na velocidade que os tempos atuais exigem e que é quase impossível, para quem se insere nessa evolução, de não fazer parte deles. 

Enquanto o carro avançava e os pensamentos se multiplicavam entre os seus ocupantes, a pergunta mais comum entre aquilo que eles pensavam e aquilo que eles estavam vendo era se, na verdade, toda essa contemporaneidade (máquinas, agronegócios, a diminuição da agricultura familiar, a dependência do campo com relação à cidade, a mudança da cultura) fazia bem ou mal ao homem do campo...

CHEGADA AO IFRN


Professoras dos Saberes da Terra do município da Serra do Mel (Antônia, Elizângela e Teresa)
Sempre dando o exemplo de profissionalismo, o grupo dos professores do município da Serra do Mel/RN foi um dos primeiros a chegar ao Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN – na cidade de Pau do Ferros/RN.

Professores dos Saberes da Terra do município da Serra do Mel (Antônia, Elizângela e Raimundo Antonio)
BOAS-VINDAS

Professora Amélia - coordenadora do curso de Especialização em Educação do Campo
A coordenadora do curso de Especialização, professora Amélia, deu as boas-vindas aos grupos ali presentes (104 professores matriculados no curso de Especialização em Educação do Campo), repassou alguns informes, definiu datas e esclareceu sobre mudanças no calendário, na grade curricular, no material didático, na camiseta do curso, nos horários, seminários, nas atividades práticas, etc.

A professora repassou as informações aos cursistas
ACOLHIDA


O padre Denis comandou a acolhida as equipes das DIREDs participantes 
A acolhida, desta feita, ficou a cargo da equipe de professores da cidade anfitriã do encontro. Pertencentes à 15ª DIRED, os professores participantes, tendo à frente dos trabalhos o professor, advogado e padre Júnior Denis da Silveira (da Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia), foram recebidos, no auditório da instituição, com uma paródia, feita em cima da melodia “Ô Mamãe, ô que calor...”.

A equipe de professores da DIRED de Pau dos Ferros fazendo a acolhida aos demais professores
Ô mamãe ô que calor, ô mamãe ô que calor, Õ calor, calor do meu sertão... 

Vou contar sobre as cidades aqui da nossa região, 
Da Educação do Campo, da gente de plantação 
Dos saberes da Terra, da Especialização... 

E o grupo de professores de Pau dos Ferros foi acolhendo cada município participante e suas respectivas DIREDs (12ª, 13ª, 14ª e 15ª), dedicando um verso através do qual expressavam um pouco da sua história: 


Pau dos Ferros é aqui, 
 Nasceu de uma oiticica, 
Gado, ovelha e vaqueiros, 
Cavalos e avecidas, 
Hoje é cidade polo 
 Dessa gente, nossa lida.

Os professores sendo acolhidos...
Encanto se desencanta 
Com os floridos e varzados 
Suas várzeas e planícies, 
Serras, morros e cerrados, 
Que tem São Sebastião 
 Como padroeiro amado. 

[...]

 Rafael é bem ali 
Bem próximo aqui de nós
 Que antes era varzinha,
 Gangorra, peixe, anzóis, 
Tem Luzia a padroeira, 
Que é a protetora dos olhos.

... pelos professores de Pau dos Ferros (15ª DIRED)
Riacho de Santana, 
A mãe da virgem Maria, 
João Batista é o padroeiro, 
O filho de Zacarias, 
O sacerdote hebreu, 
Jesus seja nosso guia. 

[...] 

HOMENAGEM A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Hino Oficial de Nossa Senhora da Imaculada Conceição
AULA DA MANHà

Em seguida ao acolhimento, os professores se dirigiram para suas respectivas salas de aula, desta vez, os grupos pertencentes às DIREDs de Mossoró, Apodi e Umarizal ficaram em uma sala e a DIRED de Pau dos Ferros (a mais numerosa) ficou noutra sala.

Sala das DIREDs de Mossoró, Apodi e Umarizal
O primeiro a explanar e dar início às discussões foi professor Abreu – (Apicultura) –, convocando os professores a falarem sobre as atividades econômicas de seus municípios e de que forma essas atividades são implementadas e se geram rendas suficientes para que os seus moradores adquiram autonomia econômica e consigam sobreviver sem a dependência das grandes empresas de agronegócios.

Professor Abreu
A participação dos professores e técnicos agrícolas, nos exemplos de suas localidades, mostrando como são feitos os trabalhos de adaptação da melhor cultura – e que lhes tragam os benefícios econômicos – foram detalhados, principalmente, pelas equipes de Apodi, São Francisco Oeste, Serra do Mel, Dr. João Câmara, Luiz Gomes.

Cada interação era acompanhada atentamente por todos
Todos observaram as dificuldades do pequeno produtor rural, a falta de incentivo por parte das autoridades, a política de preços praticados pelas grandes empresas, a falta de políticas públicas para o pequeno produtor, os caminhos da agricultura familiar sustentável e o êxodo rural.

Professor Edson
A aula foi complementada pelo professor Edson – de Matemática – que trabalhou as questões de estatísticas e matemática financeira voltadas para o campo e suas peculiaridades. 

ALMOÇO

Refeitório do IFRN - Pau dos Ferros
AULA DA TARDE 

Na parte da tarde, os professores receberam orientações sobre a Agricultura Familiar e a sustentabilidade, dadas pelo professor mestre Luciano, que fez um esboço sobre a questão fundiária no Brasil (O Brasil Colônia, seu sistema de Capitanias Hereditárias, as divisões em Sesmarias, a Lei de Terras de 1850).

Professores Luciano e Felipe
O professor Luciano levantou a questão da Agricultura Familiar Sustentável e o papel do Educador do Campo no processo de conscientização e valorização da terra. As discussões obtiveram um bom índice de envolvimento das equipes e uma certeza: a dificuldade de continuar sedimentando esse homem ao campo é cada vez mais difícil – diante da presença do poder econômico, da concentração de terras por parte dos grandes latifundiários e, em especial, das empresas multinacionais voltadas para o agronegócio – e, por isso mesmo, a Agricultura Familiar vai perdendo o seu espaço diante dessa realidade. O que fazer diante disso tudo são os desafios que os professores e técnicos dos Saberes da Terra enfrentam e tentam, ordenadamente, discutir na Especialização.

Os professores foram divididos em cinco grupos - cada grupo analisou um pequeno trecho da obra Heterogeneidade linguística e ensino da língua: o paradoxo da escola (Bortoni - Ricardo, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?Sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2005)   
Logo em seguida, foi a vez do professor Felipe – de Linguagens e Códigos – mostrar, através do PPP (Projeto Político Pedagógico) dos Saberes da Terra, como se dá essa questão de “pertença”, principalmente, para jovens filhos de moradores do campo.

Os debates foram proveitosos...
A discussão começou através de pequenos trechos do livro Iracema, de José de Alencar, e o seu linguajar rebuscado, denso, por meio do qual o autor incorpora, ao dicionário da língua portuguesa, palavras nativas, próprias da linguagem indígena e, também, dialetos oriundos da região onde ele nasceu.

Vista panorâmica da sala 
Outro aspecto abordado pelo professor Felipe foi a questão dos desvios (ou erros gramaticais) das palavras orais. O professor citou Paulo Freire e deu vários exemplos de como essa convivência – entre o formal e o informal, nascido do conhecimento de mundo –, deve ser aproveitada, trabalhada e sistematizada pela escola, sem deixar, porém, que essa cultura seja banida e/ou esquecida pelo povo de cada região. 

A VOLTA 

A tarde vinha caindo, quando o grupo de professores da Serra do Mel fez o seu retorno. Um dia proveitoso, de bons ensinamentos, amplas discussões, boas leituras e interações. Enquanto o carro engolia o asfalto do caminho de casa, em suas margens, o cidadão do campo se preparava para comer o pão de milho com coalhada e rapadura. Um costume alimentar de séculos e que lhe dá forças e vigor para o trabalho árduo na terra. Em cada galho de árvore, os pássaros fazem revoadas e se preparam para mais uma noite silenciosa onde quem canta é a coruja; e nos campos ainda sem o mato verde, devido à estiagem dos últimos anos, o gado rumina o pouco que comeu durante o dia, abana seu rabo – espantando a mosca que procura em seu couro o alimento – e também se prepara para mais uma noite ao relento sob o brilho da deusa Lua...

Imagens da Web

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