Quinta-feira, dia 29/08/13, às 18 h. O professor Raimundo Antonio a bordo da sua moto 150cc tomou a direção da Vila Rio Grande do Norte, no município da Serra do Mel/RN. Ia para mais uma aula dos Saberes da Terra – ProJovem Campo. A noite estava sem a iluminação da natureza. A Lua não aparecia lá em cima no horizonte e, por isso mesmo, a escuridão era a companhia constante para quem trafegava pela rodovia. Aqui e ali uma luz aparecia, vindo em sentido contrário à luz que iluminava a estrada, e parecia cumprimentar a quem não deixava que a solidão da noite tomasse conta dos pensamentos dos que corriam para chegarem aos seus destinos. Enquanto rodava por entre pés de cajus frondosos, o professor repassava, mentalmente, o seu plano de aula. Lembrou-se da semana passada quando uma aluna lhe fez uma determinada pergunta relacionada à higiene pessoal: pronto! – estava planejada mais uma aula, desta vez voltada para as DSTs.
Na vila Rio Grande do Norte, na Escola Estadual Padre José de Anchieta, o professor de posse de um vídeo demonstrativo e um Projetor Multimídia Interativo assistiu e interagiu com os alunos/colonos sobre a importância da higiene pessoal e dos cuidados com as relações entre homens e mulheres.
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Os alunos/colonos atentos... |
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... aprendendo um pouco mais, através de vídeos, sobre as DSTs |
Na volta, enquanto somente o ronco da moto era ouvido na estrada que o trazia de volta, o professor analisava cada trecho do vídeo, as orientações dos profissionais da saúde, as perguntas anotadas, os questionamentos da sala e as reflexões feitas por cada um deles.
Devagar – bem mais devagar do que a velocidade, naquele instante, do veiculo de duas rodas – também se vai ao longe... na educação.
TEMPO COMUNIDADE – VISITA À VILA CEARÁ
Na sexta-feira, dia 30/08/13, às 12 h. Os professores Raimundo Antonio, Teresa Cristina, Luzia Isabela e Elizângela Sales, fretaram, em frente ao mercado Público de Mossoró, um táxi para a vila Ceará – na Serra do Mel/RN.
O dia amanhecera nublado prenunciando, no clima, amenidade no calor reinante do nordeste brasileiro. Enquanto o carro tomava a direção acertada no fretamento, o início da tarde deixava cair pequenas gotas d’água no parabrisa do automóvel e a estrada ia se tornando mais molhada. O vento, que era cortado pela figura física do transporte, chegava aos pés de cajus - na beira da estrada -, e parecia que era cumprimentado alegremente pelos mesmos. O solo já estava quase todo molhado e, isso, para o colono da Serra, é festa, fartura e bons meses vindouros.
No entroncamento que dá acesso à vila Rio Grande do Norte, o taxista virou à esquerda. O caminho a seguir era para a vila Ceará, distante dali 5 quilômetros. Com uma diferença: o asfalto que até então fora companhia para os passageiros, diminuindo o atrito dos pneus no solo, agora era substituído pela estrada carroçável, cheia de pedras, areia, “costelas de vacas” e pequenos buracos. Mesmo assim, a paisagem é linda: muito verde e uma quase certeza de que a natureza ainda tem forças para reverter o atual quadro de descaso para com ela.
Finalmente, a vila. Por entre ruas largas, descalçadas e tomadas de uma areia fofa, os professores encontraram a casa da sua aluna. Casa de assentamento, humilde, pouco conforto, mas cheia de alegria e hospitalidade. A dona, de nome Adriana, veio receber os professores, junto com os seus filhos. Na parte de trás da casa, o seu esposo trabalhava a castanha. Os professores foram para lá observar o trabalho, o manejo do corte da castanha e a separação (de um dos lados) da castanha da casca. Trabalho árduo, que exige habilidade, constância e, principalmente, disposição para desempenhá-lo.
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O senhor José trabalhando e explicando... |
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... aos professores como se dá a preparação... |
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... para o corte da castanha... |
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... através de uma ferramenta manual... |
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... fabricada na própria vila e que serve... |
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... de instrumento para a separação da casca... |
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... que é terminada de ser retirada - por sua esposa - ... |
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... da castanha, com a utilização de uma outra... |
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... ferramenta manual (e feita pelos próprios colonos) parecida com uma pinça de manicure |
Os professores viram e ouviram, com detalhes, como se dá o processo da castanha como sobrevivência e fonte de renda da família. Esse processo que começa com a compra da castanha, a paga para ela ser passada na caldeira, o corte (feito através de uma ferramenta fabricada pelos próprios colonos e que abre em banda a casca da castanha – uma delas sai e a outra fica com a castanha), a retirada da castanha de dentro de um lado da casca e a paga para a castanha ir para a estufa (24 horas em fogo brando). Em seguida, a castanha passa por um banho-maria (depois que ela esfria da estufa), para ser retirada a sua película e, por fim, a seleção da castanha: de primeira, de segunda, brocada e a de bandas.
Assista ao vídeo caseiro feito pelos professores:
Na volta, para dar aula à noite, na Escola Estadual Padre José de Anchieta – Vila Rio Grande do Norte –, os professores experimentaram o caminho percorrido pelos alunos/colonos: através do ônibus que passa por duas vilas (Paraíba e Ceará) “pegando” os alunos que frequentam a Educação de Jovens e Adultos e dos Saberes da Terra. Uma aventura permeada pelos sonhos de cada um daqueles que se sentam nos bancos do ônibus maltratado pelo tempo, pelas condições do terreno em que trafega e pela falta aparente de manutenção.
O motorista, hábil na sua profissão, conhece cada detalhe do terreno por onde passa e diminui, com isso, o desconforto causado pelos solavancos tão comuns no caminho de ida e volta.
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Apesar do desconforto, a viagem feita com alegria, disposição e muitos sonhos |
Já na escola, os professores trabalharam advérbios, através de textos. Na sala ao lado, os filhos dos colonos assistiam a um filme ganhador de vários prêmios da Academia: Avatar.
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As professoras Elizângela e Luzia... |
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... ministrando mais uma aula de Língua Portuguesa |
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A professora Teresa (tendo o vice-diretor da EEPJA, em pé, ao fundo) tomando de conta dos filhos dos colonos |
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