domingo, 9 de março de 2014

3ª AULA DA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: PAU DOS FERROS/RN


Como a Natureza é pródiga! Como ela se doa e nos mostra, em exemplos, como é viver em comunhão com as coisas de Deus! Há um mês, viajando pelo sertão oeste do Rio Grande do Norte – em busca da cidade de Pau dos Ferros/RN, os professores dos Saberes da Terra, do município da Serra do Mel/RN, olhavam, ainda desesperançosos, as folhagens cinzentas e secas das árvores à beira da estrada – pelo caminho que passavam. Um mês depois, pelo mesmo caminho, o quadro já está totalmente diferente. Apenas duas chuvas e a Natureza viva despertou de sua hibernação, para explodir em cores vivas, entre elas, um verde cheio de esperança, alegrando olhos e ratificando a fé do homem do campo que nunca deixou de acreditar que a fartura está para chegar. Os professores da Serra do Mel, transeuntes mensais desse milagre, sorriram de alegria ao verem, em cada paragem, a vida seguindo o curso de sua história, com homens e mulheres começando a preparar a terra para receber, primeiro, as sementes que dão continuidade à vida; depois, vindas dos céus, as gotas do líquido da vida. É a vida que se renova, enche-nos de esperança e mostra-nos como é possível a transformação, em pouco tempo, do nada para o tudo; da falta para a fartura...


CHEGADA AO IFRN 

Enquanto os professores iam chegando, vindos de seus municípios, os professores da Serra do Mel se confraternizavam com os professores de Pau dos Ferros (1), no pátio central do Instituto Federal do Rio Grande do Norte - polo de Pau dos Ferros/RN

Pau dos Ferros (1) e 
Serra do Mel
ACOLHIDA 

A acolhida, desta vez, ficou por conta dos professores da cidade de São Miguel/RN, que receberam, no auditório da instituição, os colegas vindos dos vários municípios que integram as DIREDs de Mossoró (12ª), Apodi (13ª), Umarizal (14ª) e Pau dos Ferros (15ª). Os professores prepararam uma paródia em cima da música de Luiz Gonzaga “Na Feira de Caruaru”, para recepcionar a todos:


A feira de Caruaru faz gosto de a gente ver, de tudo que há no mundo, nela tem para vender (refrão) 

No UFRN de Pau dos Ferros dá gosto de estudar, todo conhecimento nele se pode buscar. 
Tem São Francisco do Oeste, Pau dos Ferros, Francisco Dantas e até Encanto. 
Tem Rafael Fernandes, Porto Alegre e até Riacho de Santana. 
Tem Cel. João Pessoa, Luz Gomes, Venha-Ver e até Água Nova... 

A feira de Caruaru faz gosto de a gente ver, de tudo que há no mundo, nela tem para vender (refrão) 

Tem DIRED de Pau dos Ferros, de Umarizal Apodi e Mossoró. 
Tem São Miguel que vale a pena lembrar: 
estamos aqui lutando para a educação do campo enfrentar 

 A feira de Caruaru faz gosto de a gente ver, de tudo que há no mundo, nela tem para vender (refrão)



Em seguida à acolhida, a professora Fátima Maria de Oliveira – representando a instituição – fez uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, recitando uma poesia de sua autoria intitulada “Somos todas Margaridas”, em memória de Margarida Alves, sindicalista rural da Paraíba, morta em 1973:

Professora Fátima Maria de Oliveira
Era luta todo dia 
Labuta de casa à roça 
E sabia que a terra que via 
Sairia dali boas novas 
Por isso cantava para todos os lados 
A música da liberdade 
Denunciando os abusos 
Dos donos de terra e da verdade 

 Mas foi em um dia desses 
Um dia desses de luta 
Que capangas lhe tiraram a vida 
Em nome dos que dominavam 
 Incomodava a mulher 
 Que falava pelos seus 
Mulher que já era flor 
Cuja vida o nome lhe deu 

 Hoje são muitas mulheres 
Espalhadas pelos campos do Brasil 
Todas pela vida, em marcha, floridas 
Todas em luta Margarida. 

Por último, o padre Denis – da DIRED de Pau dos Ferros – completou as homenagens, recitando, de sua autoria, “Dia da Mulher”:

Padre e professor Denis
I 

 Oito de março abençoado 
Você sabe por que é 
Dia muito importante 
Trata-se da mulher 
Mãe, guerreira e trabalhadora 
Além de ter muita fé 

 II 

 Mesmo que não seja mãe 
Ela é mulher mesmo assim 
Não se exime o seu feminino 
No seu não e no seu sim 
No trabalho ou na casa
 Mulher é sempre: 
Ontem, hoje, até o fim 

 III 

 Na cidade ela atua 
No comércio e educação 
Busca emprego, contribui 
Com o social, com a ação 
Ela é empreendedora 
Não se furta a contramão

 IV 

 No campo é pioneira 
No lar e no roçado 
Ajuda ao seu marido 
Na enxada e no machado 
A mulher não se acomoda 
Contribui com lealdade 

 

 Quem disse que é inferior 
Da costela foi tirada 
Não foi do calcanhar 
(pra não ser pisoteada)
 E, sim, do lado do homem 
Para ser amada e respeitada 

 VI 

 Mulher, também se valorize 
Não incorra à banalidade 
Valorize o que tu és 
Não seja só vaidade 
Por que como o homem também 
És pó, terra, cinza e transladada 

 VII 

 O ser humano é plural 
A mulher tem sexto sentido
 Ela tem intuição 
Vê mais longe e é aguerrida 
Tem atenção dobrada 
Muito gosto pela vida 

 VIII 

 Nas ações sociais
 De lutas e cidadania 
Ela tem participado 
Com garra e ousadia 
Em educação é pioneira 
E até são maioria 

 IX 

 Esqueci-me de contemplar
 Mulheres afros e ameríndias 
Negras, pardas, amarelas 
Que o povo chama de índias 
As primeiras do Brasil 
Quando tudo era mais lindo 

 X 

 Da mãe África arrancaram 
Grande e forte etnia 
O povo negro que trabalhava 
Em seu dia a dia 
Escravos, amas e cozinheiras 
Uma história tão sombria 

 XI 

 Negros e índios contribuíram 
Com o que hoje é Brasil 
Miscigenaram-se com os brancos
 E não houve atrofia 
Hoje somos conhecidos 
Por tão diversa etnia. 

 XII 

 Dos quilombolas nós temos 
Grande herança de Zumbi 
Do guerreiro e libertário 
Negro forte como açaí 
Que deixou o seu legado 
Aos negros dos Palmares
 E, também, os daqui 

 XIII 

 Os índios contribuíram 
Com a cultura e diversidade 
Costumes e alimentação 
Até nomes de cidades
 Ainda temos raízes dessa gente 
De cultura tão bonita
 Rica e, infelizmente, desvalorizada. 


 Depois, de pé, todos cantaram "Mulher" de Erasmo Carlos...




Da comunidade quilombola “Do Comum”, em Cel. João Pessoa, o IFRN trouxe, para falar sobre a sua comunidade, a professora Raimunda - negra bonita e forte que, com seu jeito altivo, falou sobre o seu povo – deixando transparecer, em sua fala, o orgulho que tem de suas raízes. A professora falou, de forma genérica. E, quando perguntada sobre o dia a dia de sua comunidade, as suas dificuldades, o reconhecimento, ela revelou que, infelizmente o preconceito e a discriminação ainda existem, além da exploração da qual o seu povo – em especial as mulheres – é vítima.

Professora Raimunda...
Das coisas boas, a professora falou do artesanato produzido (louças de barro) na sua comunidade, as novidades que estão surgindo; dentre elas a capoeira  – um velho costume de seus antepassados que os jovens estão aprendendo – e a dança (forró pé-de-serra), que eles descobriram ser uma boa opção de lazer.

... foi ouvida...
... com atenção pelos presentes
No final, o padre e professor Denis agradeceu, em nome de todos os presentes, a presença e o depoimento da professora Raimunda.


SALA DE AULA 

Terminadas as homenagens, as turmas foram divididas, como na última vez, e cada município se dirigiu para a sua respectiva sala.

Professores Edson e Felipe...
... e os cursistas...
... à espera de começar o seminário
Lá, à espera do início de um seminário sobre uma pesquisa de campo feita pelos professores, em seus municípios. Na pesquisa, deveria estar inserido um quadro de experiências vivenciadas com a agricultura familiar na comunidade, com base em três pontos principais: 

1 – A terra 

• Tempo: demonstrar o tempo organizado para as tarefas do dia a dia e para as temporadas de produção 
• Espaço: limites territoriais, recursos naturais, uso da terra 
• Produção: modos de produzir no passado e mudanças 
• Demandas e expectativas 

2 – O trabalhador/trabalhadora 

• Quem são: caras, trejeitos, idade, sexo, sua casa, sua família, amigos e parceiros 
• Como trabalham: o que gostam de fazer, como gostam de fazer, relação familiar – com os vizinhos, com a cidade 
• Expectativas pessoais: sonhos 

3 – Tecnologia 

• Equipamentos utilizados: ontem e hoje 
• Qualidade dos equipamentos 
• Incentivos públicos e/ou privados para a compra de equipamentos 
• Resultados • Expectativas 

Na sala dos professores Abreu (Apicultura), Edson (Matemática) e Felipe (Literatura), os municípios de: 

Pau dos Ferros (01 e 02) 
Encanto 
Cel. João Pessoa 
São Miguel 
São Francisco do Oeste 
Venha-Ver 
Serra do Mel 

A riqueza do material apresentado, pelos professores em suas pesquisas, mostrou a importância de se fazer, periodicamente, seminários voltados para o tema diversidade e suas implicações diante do tempo, do espaço e dos avanços tecnológicos da sociedade urbana. 

Contudo, ficou claro, diante dos trabalhos apresentados, que a agricultura familiar ainda persiste, porém praticada pelos mais velhos, sendo abandonada pelos mais jovens, que preferem o imediatismo de uma carreira – em que o dinheiro vem no final do mês e é certo – a produzirem na terra ainda (em muitos casos) dependendo da natureza e de ajudas sociais dos governos estaduais. 

A terra, na maioria dos trabalhos apresentados, está devoluta em seu aproveitamento, pois apenas uma pequena parte dela ainda produz o sustento e a cultura próprios da região. Em muitos exemplos dados (e vistos através de vídeos), o homem do campo se queixa da falta de incentivos, a falta de maquinários novos que acompanhem o progresso, a falta de aprimoramento das técnicas hoje utilizadas no plantio e cultivo das culturas de cada região.

AS APRESENTAÇÕES 

1 – Serra do Mel

Aílton Targino 
Elizângela Sales 
Jacildo Silva 
Raimundo Antonio 
Teresa Cristina 




 2 – Encanto

Eulália 
 Glauber 
Ubirajânia
 Edna
 Elizonete



  3 – Cel. João Pessoa

Mitza 
 Sandra 
 Lindezângela 
 Damiana 
 Joaquim Rego 



  4 – São Miguel

• Socorro Rodrigues 
Cláudia 
Josefa 




  4 – São Francisco do Oeste

 Meire 
Wellitânia 
Telma 
Totonho



  5 – Venha-Ver

  Edilene 
 Elba



 6 – Pau dos Ferros (1)

 Alzivânia  
Álysson  
Edna 
Emanuel  
Francisca  
Leylane  
Maria  
Narla  
Rosali 



  7 – Pau dos Ferros (2) 

  Padre Denis 
 Conceição 
 Rose 
 Zé Maia
 Edilene

 PLENÁRIA (AUDITÓRIO)

A professora Amélia...
... usou da palavra para dar os últimos informes (data das próximas aulas, viagem a Natal, documentação e o kit de  material, etc.) 
Após as apresentações, que duraram o dia inteiro, no final da tarde, os professores se dirigiram para o auditório e lá foi feito um resumo – pelos professores Felipe e Luciano – dos trabalhos apresentados no Seminário das duas salas.

Os professores Luciano...
... e Felipe foram os que resumiram os Seminários apresentados
Algumas considerações, por parte dos professores, corroboraram as pesquisas realizadas, dentre elas: 

• Para os jovens que fazem parte do programa Saberes da Terra, o retorno, em termos de dinheiro, tem que ser imediato. Por isso, para uma boa parte deles, sair de sua localidade e ir procurar emprego na cidade, e até fora do seu estado, ainda é a alternativa mais utilizada por eles. 

• Muitos dos entrevistados alegam que o fato de o trabalho na terra ser pesado e cansativo contribui para que eles não tenham estímulos para, à noite, assistirem às aulas, produzindo neste caso, a evasão da sala de aula, não do programa. 

• Ficou claro que, em muitas localidades, o serviço ainda é feito de forma artesanal, braçal, sem uma estrutura adequada e tecnológica e, quando tem, já com mais de 30 anos de uso, o que dificulta o progresso e, consequentemente, o aumento da produtividade das lavouras, afastando, assim, os jovens. 

• Também ficou evidente que o jovem do programa, em muitos dos casos apresentados, não possui o sentido de “pertença” à sua localidade e que, devido a isso e aos fatores aqui enumerados, prefere sair para trabalhar e estudar e muitos deles nem voltam mais para a sua comunidade. 

• Um ponto que causou surpresa, já que o programa Saberes da Terra é voltado para a agricultura familiar e a sedimentação do jovem ao seu solo natal (para que ele venha a concluir os seus estudos e, através do conhecimento, melhor se adequar à terra onde vive e nela produzir o seu sustento e a sua renda, independente da cidade e, especialmente, dos atravessadores), é que o jovem não se interessa pela terra. Ele prefere (ainda) o sonho de se empregar em grandes capitais e, através disso, realizar seus sonhos de prosperidade, de um futuro melhor. 

A VOLTA 

Na volta, o tempo do fusco-luso estava pejado e as nuvens da mãe Natureza prenunciavam boas perspectivas de chuvas para o oeste potiguar neste final de semana. O agricultor, à beira da estrada, lavava os pés e se preparava para comer o pão de milho com leite e rapadura preta do Cariri. Enquanto isso, os professores corriam pelas estradas asfaltadas em busca de seus lares, cada um com o pensamento voltado para o Ser que produziu, com perfeição, o espetáculo da vida.





Um comentário:

Nerione Maria Garcia disse...


Educação do Campo: Rompendo Cercas,
Construindo Caminhos...

IFRN de Pau dos Ferros, fazendo a diferênça.
Um grande abraço aos professores do Projovem Campo do Alto Oeste e de Serra do Mel.
Nerione Garcia