Já acostumados ao período de estiagem que assola a região do município da Serra do Mel/RN, os professores dos Saberes da Terra – Raimundo Antonio, Teresa Cristina, Antônia Farias e Elizângela Sales – não se preocuparam, nesta quinta-feira, dia 13/03, quando o tempo, por volta das 13 h, mudou de repente. E, de repente, o céu encobriu o Sol e suas nuvens ficaram pesadas, amojadas que estavam, deixando cair – lá de cima para a terra seca do sertão – o líquido que faz renascer a esperança do sertanejo no torrão natal.
Assim, debaixo de uma longa, consistente e grossa chuva, os professores saíram de Mossoró e foram em busca da Serra, para mais uma noite de aula na vila Rio Grande do Norte – E.E. Padre José de Anchieta. No caminho, carros passavam apressados (tentando vencer o molhado da pista e a nuvem espessa que suas rodas produziam ao passarem por cima dela), loucos para chegarem aos seus destinos, promoviam um espetáculo de alertas, piscas e jogos de luzes, tornando a escuridão da noite, entrecortada pelos raios, trovões e os pingos graúdos – batendo no teto e para-brisa dos carros –, uma sinfonia bela e assustadora ao mesmo tempo.
Lá em cima da Serra – onde os pés de cajus reinam absolutos na terra plantada – a mãe Natureza, agradecida, exalava o cheiro cheiroso do mato sendo abençoado pelas lágrimas do Senhor e convidava a todos para que aproveitassem o tempo e se aliassem a ela na busca por uma vida mais saudável e sustentada através de iniciativas que primassem, primeiro, pela preservação do bioma caatinga e, segundo, que, de fato, o homem do campo passasse a praticar a agricultura familiar planejada, independente da cidade, de forma sustentável e livre da degradação do ambiente em que vive.
Na escola, enquanto os ônibus iam chegando das 22 vilas – trazendo os estudantes da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e os alunos dos Saberes da Terra – ProJovem Campo –, os professores preparavam a sala de conhecimento, passavam, literalmente, o rodo no piso ainda inundado pelas águas abençoadas do Senhor. E quando eles, os alunos de todas as faixas chegaram, os semblantes eram de um misto de contentamento e encanto. A certeza do início do “inverno” é, verdadeiramente – para o homem do campo – o fim de tempos ruins.
AULA DO DIA 13/03
Com a presença da metade dos alunos (a outra metade não pôde chegar à escola devido às fortes chuvas em suas vilas), a aula começou com a professora Antônia Farias (Ciências Humanas) tirando a água de dentro da sala.
A professora Elizângela Sales (Linguagens e Códigos) tomou conta do quadro branco, enquanto a professora Teresa Cristina (Ciências Humanas) digitava, na secretaria da escola, o planejamento feito para o primeiro mês de aulas.
Os alunos/colonos receberam, através de um texto do Caderno 03, lições de substantivos e adjetivos, sinônimos de palavras “desconhecidas” de seus vocabulários, ditados de palavras, confecções de frases com substantivos e adjetivos e questionário com interpretação do texto.
O professor Raimundo Antonio, chamado pelos filhos dos alunos/colonos (os meninos haviam encontrado uma tarântula arriscando subir uma parede da sala de aula – pelo lado de fora – numa clara tentativa de fugir do volume de água que invadia a sua toca e, também, dos garotos que tentavam matá-la jogando pedras), aproveitou a oportunidade para mostrar aos meninos que aquele animal não é nocivo ao homem e que, na verdade, ela ajuda no equilíbrio da natureza.
O professor procurou explicar, dentro de uma linguagem que eles pudessem entender, o que é a cadeia alimentar, o ciclo de vida de uma aranha daquelas, o que elas comem, o tipo de defesa que elas têm contra os seus predadores, onde elas moram, a sua reprodução e que até é possível criá-las como "animais" de estimação.
Na volta, enquanto cada um dos alunos/colonos se dirigiam às suas vilas, os professores retornavam às suas casas, por caminhos distintos de todos eles, certos de que haviam cumprido com o compromisso, tendo como testemunha a noite escura, clareada pelos relâmpagos, o bater dos pingos da chuva no teto do veículo e o carimbo retumbante dos trovões lá ao longe, em toda região de Mossoró, Areia Branca, Grossos e Serra do Mel.
PLANEJAMENTO NO DIA 14/03 (TARDE)
Na sexta-feira, no auditório da 12ª DIRED, os professores foram convocados pela técnica Helena Maia (vice-diretora da entidade) para planejarem as aulas de mais um mês e, também, para que duas alunas de graduação em Educação do Campo (Antônia Marinho dos Santos e Maria Francineide Henrique de Jesus – 1ª turma, pela UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido Potiguar – as duas do município da Serra do Mel/RN – vilas Ceará e Santa Catarina) pudessem acompanhar as discussões em torno do processo de elaboração do mesmo.
As alunas do curso de graduação em Educação do Campo pela UFERSA (ao centro da imagem) |
Os professores presentes (Antônia Farias, Elizângela Sales, Raimundo Antonio e Teresa Cristina) e o técnico agrícola Aílton Targino participaram da reunião e mostraram, para os presentes, o que estava sendo feito, como tinha sido feito o processo de vinculo entre eles, a forma de trabalhar na teoria (Sala de Aula na vila Rio Grande do Norte) e na prática (Tempo Comunidade diretamente nas vilas onde moram os alunos).
A técnica Helena Maia falou sobre o ajuntamento das disciplinas na sala de aula e de como trabalhá-las conjuntamente (a interdisciplinaridade já faz parte da metodologia dos Saberes da Terra e cada professor planeja a sua aula de acordo com o que o seu colega tem para repassar, claro, absorvendo pontos comuns).
Na parte de conteúdos, para os próximos 30 dias, serão trabalhados Cidadania (já iniciado), os Direitos do Homem do Campo (já iniciado), as Dinâmicas de grupo (já iniciado) e as Oficinas em torno das operações matemáticas da adição, subtração, multiplicação e divisão. Em unidade de medida, inicialmente, comprimento e volume são, para o aluno/colono, essenciais para que ele passe a entender um pouco mais sobre tamanho da terra, etc.
Foram discutidos ainda:
• A falta de comunicação entre a DIRED e a Coordenação do Campo em Natal, que prejudica as informações que são de relevância para os professores e técnicos dos Saberes da Terra da Serra do Mel;
• As bolsas que ainda não foram pagas aos dois técnicos (Aílton e Jacildo);
• As verbas referentes aos projetos que constam do programa;
• Os Fóruns Regionais que os professores não ficam sabendo e, portanto, não participam de nenhum deles;
• A carga horária e a sua flexibilidade.
Na sexta-feira, à noite, as professoras Antônia Farias, Elizângela Sales e Teresa Cristina, acompanhadas pelo técnico agrícola Aílton Targino, conduziram a carga horária da aula. Na pauta, as informações sobre o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e como ter acesso a esse crédito rural voltado, exclusivamente, para as famílias de agricultores familiares e assentados da reforma agrária.
NOTA DA 12ª DIRED:
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) financia projetos individuais ou coletivos, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do país.
O acesso ao PRONAF inicia-se na discussão da família sobre a necessidade do crédito, seja ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou não agropecuários.
Após a decisão do que financiar, a família deve procurar o sindicato rural ou a empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), como a EMATER, para obtenção da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), que será emitida segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o agricultor para as linhas específicas de crédito a que tem direito.
Para os beneficiários da reforma agrária e do crédito fundiário, o agricultor deve procurar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) ou a Unidade Técnica Estadual (UTE).
O agricultor deve estar com o CPF regularizado e livre de dívidas.
As condições de acesso ao Crédito PRONAF, formas de pagamento e taxas de juros correspondentes a cada linha são definidas, anualmente, a cada Plano Safra da Agricultura Familiar, divulgado entre os meses de junho e julho.
Como funciona o PRONAF?
O agricultor familiar deve avaliar o projeto que pretende desenvolver. Os projetos devem gerar renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Podem ser destinados para o custeio da safra, a atividade agroindustrial, seja para investimento em máquinas, equipamentos ou infraestrutura. A renda bruta anual dos agricultores familiares deve ser de até R$ 360 mil.
O que eu fazer com o projeto?
Após a decisão do que financiar, a família deve procurar o sindicato rural ou a EMATER para obtenção da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP). Em seguida o agricultor deve procurar a empresa de ATER do município para elaborar o Projeto Técnico de Financiamento
Para onde encaminhar o projeto?
O projeto deve ser encaminhado para análise de crédito e aprovação do agente financeiro. Com o Projeto Técnico, deve-se negociar o financiamento junto ao agente financeiro.
Com o projeto aprovado
Aprovado o Projeto Técnico, o agricultor familiar está apto a acessar o recurso e começar a implementar o projeto.
O que é o Microcrédito Rural (PRONAF Grupo B)
O PRONAF Grupo “B” é uma linha de microcrédito rural voltada para produção e geração de renda das famílias agricultoras de mais baixa renda do meio rural. São atendidas famílias agricultoras, pescadoras, extrativistas, ribeirinhas, quilombolas e indígenas que desenvolvam atividades produtivas no meio rural. Elas devem ter renda bruta anual familiar de até R$ 20 mil.
Microcrédito Rural (PRONAF Grupo B)
Criado em 2000 no âmbito do PRONAF para combater a pobreza rural, o Microcrédito Rural (também conhecido como Grupo B do PRONAF) é estratégico para os agricultores familiares pobres, pois valoriza o potencial produtivo deste público e permite estruturar e diversificar a unidade produtiva. Pode financiar atividades agrícolas e não agrícolas geradoras de renda.
São atendidas famílias agricultoras, pescadoras, extrativistas, ribeirinhas, quilombolas e indígenas que desenvolvam atividades produtivas no meio rural. Elas devem ter renda bruta anual familiar de até R$ 20 mil, sendo que, no mínimo, 50% da renda devem ser provenientes de atividades desenvolvidas no estabelecimento rural.
A operacionalização do Microcrédito Rural é feita com recursos do Tesouro Nacional e dos Fundos Constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Oferece bônus de adimplência sobre cada parcela da dívida paga até a data de seu vencimento. Além de ser ofertado com taxa de juros de 0,5% ao ano e ter prazo de reembolso de até dois anos para cada financiamento.
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